Momento foi idealizado pelo curso de Psicologia; a ministrante foi a profa. Indira Siebra.
“Como costumo reagir diante de pessoas que falam ou tentam suicídio? Estou mais próximo do senador romano, do pregador medieval ou do cientista da modernidade?”: esse foi o questionamento inicial da palestra “Intervenção em crise: o cuidado no sofrimento extremo”, ministrada pela profa. Indira Siebra, na última sexta-feira (29), no auditório do bloco E, no campus Lagoa Seca. O objetivo era que os futuros profissionais compreendessem como realizar a avaliação e abordagem para prevenir casos futuros de suicídio.
Na oportunidade, foram apresentadas algumas estatísticas sobre o suicídio. Segundo a professora, está ocorrendo um aumento no índice de suicídio em pessoas idosas. Além disso, as mulheres cometem a tentativa duas vezes mais do que os homens. Por sua vez, os homens morrem três vezes mais do que as mulheres, devido ao uso de formas mais violentas para cometer o ato.
E como saber se o indivíduo tem risco de tirar a própria vida? A professora relatou que na psicologia sempre dizem que tudo depende muito, pois trabalham com a subjetividade. “No entanto, temos alguns protocolos de avaliação para determinar se há um risco leve, moderado ou grave. O profissional avalia a rede de apoio desse indivíduo e todos esses processos para poder avaliar o risco e planejar os encaminhamentos”, disse a professora e detalhou os indícios de cada um dos três riscos.
Um dos objetivos da palestra também era discutir a ética do cuidado na atuação do psicólogo. Mas, o que vem a ser isso?
De acordo com a profa. Indira, a ética do cuidado vem de um lugar de respeito à singularidade e à vivência do indivíduo. “Hoje, temos alguns trabalhos que falam sobre a valorização da vida, não é? Isso para mim soa como uma violência, porque parece que o indivíduo que tem pensamentos suicidas não quer viver, mas ele quer viver. Ele simplesmente não quer viver daquela forma com o grande sofrimento que está experimentando”, explicou e acrescentou que a ética do cuidado envolve acolher e, junto com o indivíduo, encontrar formas de enfrentar as crises.
Para finalizar a palestra, a professora discorreu a respeito da posvenção e questionou aos presentes se alguém já ouviu falar a respeito. Em seguida, explicou que o termo se trata do cuidado com a família de alguém que cometeu suicídio. “As famílias enfrentam uma intensa angústia, carregada muitas vezes de culpa, remorso e raiva. O poema ‘A um ausente’, de Carlos Drummond de Andrade, ilustra bem essa dor. O luto por suicídio pode ser solitário, pois muitas pessoas evitam o assunto. E ao mesmo tempo é uma situação escancarada, pois todos sabem, mas solitária, pois ninguém oferece apoio”, destaca.
“Alguns estudiosos chamam as pessoas enlutadas por suicídio de sobreviventes, sobreviventes de uma tragédia, um drama familiar repleto de culpa, remorso e saudade, que pode ser associado a grandes tragédias. O luto de uma família que perdeu alguém por suicídio é comparável ao luto de famílias que perderam entes queridos em acidentes. Claro, há espaço para a subjetividade, mas o sofrimento dessa família é imenso”, destaca a professora e complementa que: “ser sobrevivente é um fator de risco para suicídio e a gente precisa acolher esses sujeitos. A gente precisa se fazer presente, trabalhar para que esse sujeito possa falar dos seus sentimentos”.
Em momentos de crise, ela comentou ainda que existe um protocolo dos primeiros socorros psicológicos, um deles trata-se da descompressão. “Se a gente deixar uma panela de pressão no fogo, sem soltar a válvula, o que acontece com ela? Ela explode. É isso que acontece com sujeitos que estão em crise. Então, num primeiro momento precisamos descomprimir, puxar a válvula da pressão dos sentimentos daquele sujeito e deixar esvaziar”, finaliza.
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Compromisso com os processos de transformações sociais e promoção da qualidade de vida.