Paula Bitu conheceu a atuação do Exército quando apresentou trabalho científico em um congresso na Bahia, junto da professora Luciana Mara. “Era meu sonho, e fui atrás”, ela conta nesta entrevista exclusiva. Confira!
O Centro Universitário Doutor Leão Sampaio (Unileão) se destaca como referência em ensino de qualidade no Cariri cearense, formando anualmente centenas de profissionais que seguem carreira em diversas áreas. Um exemplo disso é a egressa Paula Bitu, 2º Tenente da 15ª Companhia de Infantaria Motorizada, localizada em Guaíra, no Paraná, parte da 5ª Região Militar do Exército Brasileiro. Ela atua no Serviço Militar Temporário como cirurgiã-dentista desde 2023.
O interesse de Paula pela Odontologia no contexto militar surgiu quando ela participou do Congresso Internacional de Odontologia da Bahia (CIOBA), em 2016. Durante o evento, apresentou um trabalho científico desenvolvido em parceria com a professora Luciana Mara e percebeu que, simultaneamente, acontecia um evento do Exército, onde observou mulheres atuando na área. A experiência despertou seu interesse pelo serviço militar. “Fiquei com aquilo na cabeça… Era um sonho a longo prazo porque, nas minhas pesquisas, vi que eram poucas vagas e fiquei receosa”, diz.
Formada pela Unileão em 2017, Paula iniciou sua trajetória acadêmica em 2012, embora seu sonho inicial fosse cursar Medicina. Ela prestou vestibulares e processos seletivos para Medicina e apenas um para Odontologia – sendo aprovada justamente neste último. A trajetória até seguir seu sonho na carreira militar não foi fácil: antes de ser aprovada, Paula precisou lidar com a frustração de não ter conseguido uma vaga em sua primeira tentativa, mesmo estando como primeira colocada na lista de expectativa de vagas. Leia mais nesta entrevista.
Em 2012, prestei o vestibular. Mas, não queria Odontologia, e essa não era minha primeira opção. Sempre soube que queria atuar na área da saúde e, no ensino médio, foquei em Medicina. Fiz vários vestibulares para universidades federais em Medicina e apenas um para Odontologia, na Unileão. Não passei em Medicina, e minha mãe disse: “Você não vai ficar parada”. Eu queria fazer cursinho e continuar estudando para tentar o vestibular novamente, mas ela afirmou: “Não, você vai começar [Odontologia]”. No início, relutei; não queria, mas acatei o conselho da minha mãe. Sempre digo que não escolhi a Odontologia, foi ela que me escolheu.
No começo da faculdade, primeiro semestre, lembro que tínhamos oito disciplinas, se não me engano. Alguns dias eu estudava à tarde e à noite no campus Saúde, outros, manhã, tarde e noite, minha turma era de noite. Não tinha tempo para estudar para o Enem ou outros vestibulares. Então, precisei focar na faculdade e não podia fazer de qualquer jeito. Fui estudando e com o tempo, a Odontologia foi me conquistando. Foi um caso de amor construído no dia a dia. Quando cheguei na metade do curso, já estava apaixonada, e, ao me formar, não me via em outra profissão que não fosse Odontologia.
Me formei em 2017. Antes de colar grau, passei em um estágio no Curso de Aperfeiçoamento em Endodontia pelo Centro Caririense de Pós-Graduação (CECAP). Passei um ano no estágio e, no décimo semestre, fui convidada a iniciar a especialização. Algum tempo depois tive a oportunidade de trabalhar com médicos e percebi que realmente não me via sendo médica (risos). Hoje, tenho certeza de que a Odontologia me escolheu.
[A área de] Endodontia sempre foi meu caso de amor desde a faculdade. Comecei a especialização porque era a área que mais me chamava atenção. Colei grau em fevereiro de 2018 e, em março, consegui um emprego para trabalhar em um Programa Saúde da Família (PSF) em Tamboril, no sertão central do Ceará. Não conhecia a cidade, e essa foi a primeira vez que saí da minha zona de conforto. Mudei de cidade e rotina, sem familiares por perto. Fui com três amigos que colaram grau junto comigo, e todos começamos a trabalhar lá. Passei cinco anos em Tamboril, de 2018 a 2022. Nos três primeiros anos, atuei como Dentista de PSF, e nos últimos dois, como coordenadora de Saúde Bucal. Saí de lá em 2022 porque passei na seleção temporária do Exército.
Sempre tive interesse na vida militar. Meu noivo é militar de carreira e me incentivou a tentar. Conheci essa área através da professora Luciana Mara, que nem sabe disso (risos). Em 2016, fui a um congresso, o Congresso Internacional de Odontologia da Bahia (CIOBA), para apresentar um trabalho de Periodontia. O tema era: A influência da predileção familiar em casos de periodontite agressiva [acesse a aba Periodontia]. Lá, vi que estava acontecendo também um congresso militar. Não era no mesmo espaço, mas vi algumas mulheres fardadas e isso despertou meu interesse.
Pesquisei como funcionava, pois não temos esse contato durante a graduação. Fiquei com aquilo na cabeça: me formar e tentar o Exército. Era um sonho a longo prazo porque, nas minhas pesquisas, vi que eram poucas vagas e fiquei receosa, achando que só pessoas indicadas teriam chance. Mas, quando conheci meu noivo, ele me explicou que era possível ser aprovada mesmo sem parentes na área e que também havia concurso para seguir carreira. Então, guardei essa vontade e continuei no SUS.
Em 2021, fiz minha primeira inscrição para o processo seletivo temporário. Concorri para a 10ª Região Militar, em Fortaleza (CE), e para a 12ª Região Militar, em Tabatinga (AM), onde meu noivo servia. Fiquei em primeiro lugar em Tabatinga, mas era apenas expectativa de vagas e não fui chamada. Foi frustrante, pois mexi em um sonho que estava guardado e não deu certo. Pensei em desistir, mas, em 2022, resolvi tentar de novo – com o incentivo do meu noivo – por desencargo de consciência.
Me inscrevi para várias regiões: Fortaleza, Natal e Guaíra, onde moro hoje. Fiquei em 7º lugar em Natal, 1º de novo em Tabatinga e 1º na 5ª Região Militar, que abrange Paraná e Santa Catarina. Só que eu já não tinha mais aquela emoção que tive no ano anterior e pensei que não seria chamada novamente, ficando apenas na expectativa de vagas. Mas, para minha surpresa, me chamaram. Não conhecia o Paraná, nem Curitiba, e nunca tinha enfrentado o frio (risos). Mas era meu sonho, e fui atrás. Então, desde fevereiro de 2023, sou dentista do Exército.
Nosso atendimento no Exército é voltado para a família militar, para os dependentes e para os militares, ou seja, mais direcionado à família, incluindo aqueles que já estão na reserva. Como são pessoas que mudam de cidade com frequência, elas não precisam enfrentar problemas de adaptação ao chegar, como a necessidade de comprovar endereço. Às vezes, por esse motivo, não conseguem obter prontuário no SUS.
Somos vinculados ao serviço justamente para isso: prestar assistência às famílias que acompanham, que se deslocam e que estão fora de suas cidades e estados. É um público que se muda constantemente. Como estou em uma área de fronteira, sou a única dentista da unidade. Por isso, faço tanto atendimento clínico quanto endodontia.
Além da atuação como cirurgiões-dentistas, também atuamos como militares – tirando serviço como oficiais de dia, realizando processos de aquisição de materiais, processos administrativos, dentre outros.
O Exército traz estabilidade para nós. É um emprego que, atualmente, oferece uma boa remuneração. Temos férias; eu, inclusive, estou de férias aqui no Ceará. Além disso, ele proporciona horários de trabalho flexíveis. Há locais onde trabalhamos seis horas por dia e outros onde o expediente é de oito horas. A remuneração, as férias e o projeto de carreira são aspectos importantes, mas o que considero mais relevante é a estabilidade que ele proporciona. É um emprego que, ainda hoje, é valorizado por essa estabilidade.
O processo seletivo para ingressar no Exército é o processo seletivo MFDV, destinado a médicos, farmacêuticos, cirurgiões-dentistas e veterinários. A inscrição é feita de maneira voluntária e o aprovado recebe uma remuneração. A entrada se dá com o posto de aspirante e, após um período de seis meses, há promoção para 2º tenente.
Médicos, farmacêuticos, dentistas e veterinários já entram como oficiais do Exército. Quatro anos depois, ocorre a promoção para 1º tenente. Toda região militar abre edital entre junho e julho. A idade máxima para inscrição é de 40 anos, portanto, aqueles que têm interesse podem se inscrever dentro da especialidade em que há expectativa de vagas até essa idade.
Outras informações sobre os processos seletivos do Exército Brasileiro, voltados para a área da Saúde, acesse: https://esfcex.eb.mil.br/.
Atualmente, Paula é pós-graduanda em Saúde Pública pela Faculdade Batista de Minas Gerais e mestranda em Endodontia pela Faculdade São Leopoldo Mandic, em São Paulo. Leia mais no Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8095725313035177. A história dela é um exemplo de como seguir o coração e superar desafios podem abrir portas para oportunidades únicas e gratificantes.
Saúde e beleza buco-facial.