Como a professora Joseane Vieira, do curso de Direito, tem inspirado seus alunos e alunas a serem protagonistas de suas próprias histórias.
O ambiente jurídico brasileiro, tradicionalmente dominado por homens, é um dos campos mais desafiadores para as mulheres. É o que avalia a professora Joseane Vieira, docente do curso de Direito da Unileão, ao percorrer rapidamente na memória o caminho que a fez chegar até aqui. Ao mesmo tempo, o olhar de quem fará dez anos labutando em sala de aula permite avaliar, também, a crescente presença feminina na graduação, embora ainda enfrentando dificuldades para conquistar a mesma inserção no mercado de trabalho.
“Eu pude perceber isso em várias nuances durante a minha trajetória profissional. A minha luta e o que eu busco a cada dia, na docência, é servir de inspiração para que tanto alunos, mas, principalmente, as estudantes, encontrem uma inspiração e saibam que existe, sim, espaço para que a gente possa exercer a nossa feminilidade sem deixar de ser competentes e reconhecidas dentro da nossa área”, afirma.
Ao longo da carreira, a professora se deparou com os obstáculos enfrentados por outras tantas mulheres que escolheram áreas historicamente masculinas. Ela lembra que, por muitos anos, as posições de destaque no Direito eram, em sua maioria, ocupadas por homens. Esse contexto, no entanto, não a impediu de seguir em frente. Para ela, a docência representa uma oportunidade de transformação e espaço onde pode se tornar referência e incentivar outras mulheres a seguirem firmes em suas carreiras.
“Metade de mim é coragem e a outra metade também”
“Ainda bem que esse cenário tem mudado nos últimos anos e eu me sinto muito feliz em fazer parte dessa mudança e enxergar essa mudança no meu dia a dia. E eu me esforço para ser também esse exemplo para as estudantes, porque eu acredito que nós precisamos, sim, de um olhar mais humano, de um olhar comprometido. E a mulher traz essa perspectiva, ela sabe gerenciar muitos papéis, cuidar de muitas coisas e, às vezes, deixa até de lado cuidar de si mesma. Mas a importância de trabalhar nesse espaço, ela existe e nós temos de continuar lutando por isso”, considera.
Empoderar-se e ser protagonista da própria história
Ao refletir sobre as mulheres que a inspiraram ao longo de sua jornada, a professora cita figuras como as ministras do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie e Cármen Lúcia, que compartilham da mesma profissão, e também a ativista Maria da Penha, símbolo na luta contra a violência de gênero. Para ela, a trajetória de Maria da Penha é um exemplo claro de protagonismo – uma palavra que reflete a própria missão de Joseane como professora e profissional do Direito.
“Eu sou professora dos semestres iniciais, e uma fala que eu sempre gosto de trazer para eles [os estudantes] é que o curso nos auxilia a nos empoderar e ser protagonista da nossa própria história, de entender que a gente é um ser social, saber como a sociedade funciona, quais são os nossos direitos e deveres e isso nos dá voz, nos dá segurança de que a gente é capaz”, defende.
Segundo a professora, a luta de Maria da Penha – vítima de violência doméstica que se tornou defensora dos direitos das mulheres e responsável pela criação da Lei de mesmo nome – é uma grande inspiração para suas alunas, mostrando como é possível se empoderar e lutar por um mundo mais justo e igualitário. “Quando a Maria da Penha se viu naquela situação, não se conformou ou ficou se vitimizando. Foi atrás de conhecimento, se municiou do que o conhecimento pode trazer para ela nessa luta e se tornou protagonista do destino dela”, acrescenta.
Mensagem às mulheres
“A minha trajetória me mostrou que a gente precisa ter muita garra, muita certeza do que a gente quer e saber os espaços em que a gente se insere. Eu gosto muito de uma frase que diz: ‘Só recebem as melhores batalhas, os melhores soldados’. Então, se a gente tem tanta demanda, consegue lidar com tanta coisa, é porque a gente pode. Somos competentes, conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas não somos super-heróis. A gente precisa reconhecer esse papel, tentar equilibrar isso trazendo harmonia para a vida pessoal e profissional, para que a gente não se sobrecarregue. Então, a mensagem é: vamos nos apoiar, vamos compartilhar as responsabilidades.”