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Unileão promove II Seminário Democracia e Equidade Racial com debates sobre reparação histórica e justiça social

Evento reuniu painéis, apresentações científicas e palestra sobre o protocolo de julgamento com perspectiva racial.

12/11/2025 13:42 pm - Atualizado em 12/11/2025 13:45 pm - COMPARTILHE: - + Imprimir

O Centro Universitário Doutor Leão Sampaio (Unileão) realizou, na segunda-feira (10), a segunda edição do Seminário Democracia e Equidade Racial, no auditório do Bloco E, no Campus Lagoa Seca. O evento reuniu estudantes, professores e convidados em uma programação voltada à reflexão sobre direitos, justiça e valorização das identidades negras. Ao todo, 22 trabalhos científicos desenvolvidos pelos participantes foram apresentados durante a tarde.

A coordenadora administrativa da Unileão, Janiele Feitosa, destacou a importância da iniciativa como um espaço de transformação e construção coletiva. “Para nós é um motivo de muito orgulho realizar a segunda edição do Seminário Democracia e Equidade Racial, evento que possibilita, sobretudo aos estudantes, a aproximação com debates que nos são muito caros socialmente. Bell Hooks diz que a educação nos permite acreditar no potencial transformador que ela carrega – e é acreditando nesse potencial que seguimos contribuindo e realizando atividades como esta”, afirmou.

Reparação histórica e potência das mulheres negras

A abertura contou com o painel “Reparação Histórica e Bem-viver: a potência das mulheres negras nos movimentos sociais”, inspirado na temática da Marcha das Mulheres Negras. O debate reforçou a importância da mobilização e da luta por direitos, memória e democracia plena.

Participaram do painel Valéria Carvalho e Verônica Carvalho, fundadoras do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), e Janayna Leite, presidente do coletivo. Verônica relembrou a trajetória do grupo, que surgiu há quase três décadas como resposta à ausência de representatividade negra na região.

“Há aproximadamente 30 anos, por reparação, a gente criou o Grunec, um aquilombamento de profissionais, professores, estudantes, donas de casa e artistas que se juntaram para questionar: ‘onde estão os pretos do Cariri?’. As primeiras lutas foram para entrar no ambiente escolar, porque a nossa ancestralidade já nos apontava que o que traz conscientização é o conhecimento”, recordou.

Durante sua fala, Valéria Carvalho destacou a urgência de repensar as práticas sociais e institucionais que ainda perpetuam desigualdades raciais, fator também comentado por Janayna Leite. “Costumamos dizer que o resquício da carta de alforria, para nós, povo preto – especialmente os homens –, chama-se RG, porque muitas vezes não dá tempo de mostrá-lo em abordagens policiais. A segurança pública precisa ser refletida”, afirmou Valéria.

Ela também ressaltou a importância da luta contínua por acesso e oportunidades: “Acabamos de chegar de Brasília, estávamos lutando. Todo dia a gente luta. Já somos aposentadas, eu e Verônica, mas as demandas são tantas que não nos permitimos parar. É doloroso ver que os nossos jovens, vindos da escola básica, muitas vezes não conseguem acessar uma instituição de ensino como a Unileão. Se a escola básica não funciona, como haverá crescimento no ensino superior?”, refletiu.

Judiciário e equidade racial

O segundo painel, intitulado “O papel do Poder Judiciário na promoção da Equidade Racial”, contou com a participação dos juízes Juraci de Souza Santos Junior, da 2ª Vara Criminal da Comarca do Crato-CE, e Luiz Phelipe Fernandes Morais, titular da Vara Única da Comarca de Jardim-CE.

Luiz Phelipe ressaltou a relevância da continuidade de espaços de debate como este. “Iniciativas como essa são fundamentais para enfrentar o fato de que o país é racista, as pessoas entendem isso, mas não sabem identificar onde está o ‘racista’. Decerto, a informação é o ponto de partida, embora não seja a única ferramenta”, afirmou.

Já Juraci de Souza destacou a necessidade de humanizar o olhar do Judiciário: “No momento inicial do interrogatório, tenho o costume de conversar com as pessoas, antes de ingressar no caso. Pergunto sobre suas histórias, origens e famílias, para não reduzi-las apenas ao processo. É preciso compreender o contexto, porque ali estão pessoas, e o contexto importa”, reforçou.

Encerrando a programação, os advogados Lívia Nascimento e Paulo Henrique Borges ministraram a palestra “Conhecendo o protocolo de julgamento com perspectiva racial”, ampliando a discussão sobre práticas jurídicas mais inclusivas e sensíveis às desigualdades raciais.

Confira os registros do evento!


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