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Professor da Unileão alerta sobre riscos de bebidas adulteradas e orienta quanto à prevenção e aos primeiros socorros

De bares informais em esquinas ou beiras de estrada a grandes festas como “pegas de boi” e vaquejadas, consumo de bebidas sem atenção à procedência pode resultar em intoxicações graves e até mortes.

09/10/2025 14:09 pm - Atualizado em 13/10/2025 16:31 pm - COMPARTILHE: - + Imprimir

A dose de cachaça, também conhecida como “meiota”, e o drink gelado do fim de semana estão sob suspeita. Depois de 259 notificações registradas, sendo 24 casos confirmados e 235 em investigação, a preocupação se espalhou pelo país.

O alerta também é válido para regiões como o Cariri, onde bares informais e festas populares, como “pegas de boi” e vaquejadas, fazem parte do cotidiano, mas também podem se tornar portas de entrada para bebidas adulteradas.

O professor Walber Castro, pesquisador e docente do curso de Biomedicina do Centro Universitário Doutor Leão Sampaio (Unileão), ajuda a explicar o que está por trás dessa ameaça silenciosa e como a população pode se proteger.

“Esses casos vieram para alertar o processo, tanto de produção quanto de distribuição das bebidas. O metanol é altamente tóxico e pode aparecer de duas formas: ou no processo de fabricação, quando a destilação é malconduzida, ou depois, na famosa ‘batizada’, quando alguém adultera a bebida já pronta”, explica o professor.

Veneno disfarçado

O metanol é um álcool industrial, usado como solvente e combustível. Visualmente, é idêntico ao álcool etílico, o mesmo que dá teor alcoólico às bebidas comuns. Mas dentro do corpo humano, a diferença é fatal: o metanol se transforma em formaldeído e ácido fórmico, substâncias que podem destruir o nervo óptico e causar parada respiratória.

“Os sintomas aparecem rápido: náuseas, desmaios, cegueira súbita e até AVC [Acidente Vascular Cerebral]. E o pior: muita gente confunde com uma simples ressaca. O que pode ser uma noite de diversão termina em tragédia”, alerta Walber.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATOX) já lançaram alertas para que bares, produtores e consumidores fiquem atentos à origem dos destilados. No Brasil, a suspeita é de que parte das bebidas envolvidas tenha sido adulterada após a fabricação, durante o preparo de drinks e coquetéis.

De acordo com o professor Walber, mesmo um “shot” ou uma dose já contém cerca de 80 ml (na dosagem paulista) e 10 ml (na dosagem cearense). “É um copinho pequenininho, imagina se um indivíduo conseguir tomar meio litro, um litro, o óbito é súbito, infelizmente”, alerta.

Risco não escolhe endereço

Os casos em São Paulo chamaram atenção também pelo local de ocorrência: bares sofisticados, em áreas nobres. A constatação derruba a ideia de que o perigo está restrito a ambientes simples ou informais.

“Isso pode acontecer tanto em um bar de renome quanto em uma bodega de esquina”, reforça o professor Walber. “O que importa é a procedência. Saber de onde veio a bebida, se é de uma destilaria confiável, se o processo é industrial ou artesanal. Isso faz toda a diferença.

No Cariri, onde a cachaça artesanal é símbolo cultural e econômico, o alerta tem peso dobrado. O consumo em eventos populares, como vaquejadas e “pegas de boi”, muitas vezes envolve bebidas vendidas sem rótulo ou controle sanitário.

“É preciso que o produtor local entenda o processo químico da destilação, saiba descartar a ‘cabeça’ e a ‘calda’ da cachaça, que concentram o metanol. Só o ‘coração’ da bebida é seguro. A ciência está aí para ajudar, não para punir”, enfatiza o pesquisador.

Ciência a serviço da prevenção 

A Unileão atua como parceira da comunidade, aproximando a ciência do cotidiano, transformando conhecimento em segurança. “A fiscalização sanitária não é inimiga do comerciante”, afirma Walber. “Ela está ali para proteger a vida. Quando um bar entende de onde vem o que vende, quando um consumidor aprende a identificar sinais de risco, a gente salva vidas.”

Entre as principais orientações, o professor Walber destaca que é preciso desconfiar de bebidas muito baratas ou sem rótulo; evitar o consumo de destilados em locais sem procedência comprovada; guardar a embalagem da bebida ingerida em caso de suspeita de intoxicação (isso ajuda na análise química posterior), além de acionar o SAMU (192) e o CIATOX (0800 722 6001) imediatamente ao surgirem sintomas graves.

Práticas como induzir o vômito ou tomar leite não devem ser feitas, porque aumentam a absorção do metanol. O certo é buscar atendimento urgente, orienta o professor.

Desinformação também intoxica 

Além do perigo químico, outro inimigo se espalha com rapidez: as fake news. Mensagens alarmistas em redes sociais, vídeos sem fonte e boatos sobre marcas específicas confundem a população e desviam o foco do real problema: o controle e a fiscalização da produção.

“A gente precisa lidar com fatos, não com fantasia. É preciso confiar no que a ciência e as instituições sérias dizem. A desinformação, nesse caso, também pode matar”, alerta Walber. “Conhecer é o primeiro passo para se proteger. A ciência existe para aproximar, para dar solidez às nossas escolhas. Quando o consumidor entende o que está bebendo, ele se torna parte da solução”, reforça.

SERVIÇO

Em caso de suspeita de intoxicação:
• SAMU – 192
• CIATOX – 0800 722 6001


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